Solidão ou autonomia?



Há diferenças entre estar só e usar a solidão para aprender mais sobre si mesmo
   
HUGO VIANA 

“Saí recentemente de um relacionamento que durou pouco mais de dois anos. Eu me sentia sufocado, precisava buscar autonomia em relação a minha própria vida. E acho que essa relação especificamente me tirava a oportunidade de acentuar minhas caracterísicas pessoais”. Esse depoimento, feito por João da Silva, 28 anos, reflete de certa forma uma postura contemporânea, de usar os momentos de solteiro para aprender mais sobre si.

“A busca da autonomia é uma tendência natural em pessoas saudáveis. Para a psicologia clínica, há duas vertentes, uma boa e outra má. Quando a escolha é voluntária, ela é benéfica e ajuda a limpar a mente. Mas, se é imposta, torna-se opressora. Em linhas gerais, quando a solidão é uma coisa imposta, é desolação; quando é uma opção escolhida, é liberação”, explica a Conceição Veras Padilha, psicoterapeuta de Casal e Família e também sexóloga. E ainda complementa: “No silêncio, fazemos contato com o que realmente somos e é o momento quando nos permitimos resgatar a força interior para aprendermos a gostar da nossa própria companhia”.

O problema de experimentar essa autonomia na vida, como ponderou Conceição, é cair na solidão. A sociedade contemporânea possui uma relação disfuncional com a solidão: poucas pessoas realmente gostam de ir ao cinema ou a um restaurante a sós. Só que a psicoterapia não vê a situação dessa mesma forma: “É fundamental para qualquer ser humano ter um momento de introspecção, de reavaliação. É importante destacar que estamos falando aqui da solidão normal, inerente a todo ser humano. Isso é diferente da síndrome da solidão, de natureza patológica. O importante é não se colocar sozinho perante a vida, afinal, sentir solidão é uma situação normal da vida”, explica a psicoterapeuta Jacqueline Meireles, especializada em psicoterapia clínica e hospitalar.

Mas a busca por uma autonomia na vida não significa necessariamente que a pessoa vai ou deve estar solteiro(a). É possível aliar as duas coisas: a autonomia pessoal com um relacionamento saudável entre duas pessoas. “Tentar conciliar essas duas vertentes, a autonomia e a liberdade, no que se refere ao estar só ou junto com outro, torna relação bem mais rica. Porém, nem sempre o estar junto é necessariamente estar com o outro. Afinal, quando as pessoas se tornam mais autônomas, melhoram visivelmente a auto-eficácia, adquirem mais confiança e se tornam mais auto-suficientes”, explica Conceição.

E conciliar tudo isso num relacionamento que seja bom para as duas partes é algo complicado. A situação de João, descrita no início do texto, é algo presente em relacionamentos, experimentar a solidão a dois. Sobre o assunto, Jacqueline aponta que um casal pode sentir essa mesma sensação de falta de comunicação compartilhando um relacionamento. “A solidão pode ser identificada através do afastamento sentimental, da incompatibilidade emocional, da ausência de diálogo e consequentemente da perda do afeto. O casal pode passar pelo período de isolamento ocasionado pela falta de entendimento, fechando-se em seu universo afetivo. Ser só a dois é algo até comum nos relacionamentos”, explica Jacqueline.

De qualquer forma que seja, num relacionamento ou solteiro, a solidão deve ser vista como um momento para se conhecer. Mas quando a pessoa não consegue lidar com isso, talvez seja melhor buscar algum tipo de apoio. “Quando a solidão traz prejuízo a si ou a outra pessoa, daí a escuta se faz necessária, devendo-se buscar o apoio psicoterápico. Nesse momento, o importante é ir ao encontro da verdade e tentar administrá-la com o intuito de reverter, de forma gradativa, todos os sentimentos depreciativos vivenciados pela solidão”, aponta Jacqueline.

SERVIÇO

Jacqueline Meireles
Fone: 8811 2263
www.psicologiaemanalise.com.br
Fonte: Folhape

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário, participe dessa construção!