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Por que a gente comemora o ano-novo?

 

Descubra porque nós fazemos tanta questão de preservar os rituais e símbolos associados ao ano-novo

 

Verônica Mambrini, iG São Paulo | 27/12/2011 07:00

 
Fogos em Copacabana, lentilha na ceia, champanhe, flores no mar, pule com o pé direito, coma lentilhas, suba escadas, acenda as luzes, aumente o som, grite bem alto “feliz ano-novo!” São muitos os rituais para a passagem de ano. Mas por que a gente repete esses gestos todos os anos? E, mais ainda, eles de fato servem para alguma coisa?

Estudiosos acham que sim, os rituais são importantes e têm sua função. Eles carregam o poder simbólico de abrir e fechar os ciclos e esse poder é enorme. A cada ciclo que termina, as pessoas sentem necessidade de fazer um balanço de pontos positivos e negativos”, diz a psicóloga Jaqueline Meireles.

E isso vale tanto para as crises, problemas e dificuldades do ciclo que termina quanto para os projetos e sonhos que ficaram estagnados e precisam ser atualizados para o novo tempo que começa.  

Mas por que todo mundo precisa fazer o balanço ao mesmo tempo, numa data convencionada?

“Por causa da força simbólica. O mundo todo se mobiliza em função disso”, afirma a psicóloga. Esse gigantesco “mutirão de boas intenções” que se cria nesses momentos pode ser um belo empurrãozinho para incentivar o exame de consciência e abraçar o ano vindouro. 

É claro que o ciclo pode começar na data de aniversário ou ser provocado por uma mudança de emprego, por exemplo, ou por qualquer outro momento, desde que seja significativo para a pessoa. “Muitos momentos na vida convocam mudanças. Porém, durante os ciclos que se fecham essa convocação tem peso especial, você é impulsionado pela massa”, afirma Jaqueline.

A passagem do tempo e os ciclos da Natureza impressionaram mesmo nossos mais antigos ancestrais. E os rituais de passagem têm servido desde sempre para pontuar esse ritmo repetitivo que os homens observavam em tudo à sua volta. 

“Os rituais de passagem respondem à necessidades básicas arquetípicas”, diz Denise Ramos, professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e analista jungiana.

“Rituais geram bem estar. A marcação do tempo existe desde os primórdios da humanidade porque dá aos homens uma sensação de controle sobre o próprio destino”, afirma. 

A analista acrescenta também um outro ingrediente fundamental para o bem estar psíquico do ser humano: a necessidade de esperança.

“O ano novo traz consigo a possibilidade de reorganizar a vida, consertar erros, fazer coisas diferentes, essa promessa do ‘novo’ é fundamental para o bem-estar e para a saúde mental.”

Os rituais servem justamente para expressar essa tentativa de controlar o destino e dar corpo e voz à esperança.

Não basta dizer que acabou um ano e começa outro, é preciso marcar, dar uma forma concreta à essa convicção. Em geral, os rituais ligados à água são muito fortes”, diz. Um exemplo são as oferendas para Iemanjá que povoam a costa brasileira na noite de ano-novo. “São feitos por pessoa de todos os credos, porque a simbologia da água está ligada a renovação, à Grande-Mãe, portanto ao amor e à felicidade.”

Em francês, a palavra ‘réveillon’ remete a vigília, ao ato de estar acordado.

“Se você vai receber o novo, tem que estar acordado para recebê-lo quando chegar. Assim como precisa estar acordado para 'se livrar' do ano-velho”, explica Denise. “É a chance de fazer um desejo, um voto.”

E para ajudar a espantar o mal e atrair o bem, fogos de artifício! “O barulho tradicionalmente espanta os maus espíritos e os fogos colorindo o céu passam a ideia de comunicação com os deuses. As velas acesas pela casa também guardam esse sentido de ligação com o transcendental, são tradicionais veículos de elevação espiritual.”

O que se come também é extremamente importante: as comidas que atraem boa-sorte no ano-novo representam fartura e prosperidade.

“O elemento simbólico que aparece sempre forma associações na nossa mente. Não comer aves que ciscam para trás é uma analogia que remete à ideia de não regredir na vida, assim como a lentilha, verde, remete a moedas, a dinheiro”, afirma a professora. 

Outro clássico é a romã, associada há séculos à fertilidade e à prosperidade, provavelmente em função das centenas de sementes rubras que compõe a polpa da fruta.

E os números? Por que ‘sete ondas’, sete sementes de romãs na carteira’, sete uvas’?

O número 7 é tradicionalmente associado à completude, ao final de um processo. Na Bíblia, esse significado do número é tão enfatizado que alguns pesquisadores acreditam que acaba sendo uma marca do trabalho divino. Daí sua identificação com a perfeição é um pulo. 

Além disso, Denise explica, o número 7 é composto pelos números 3 e 4 que também são numerais associados à boa sorte, representam padrões da Natureza, expressam fenômenos relacionados à passagem do tempo e à situação dos humanos no universo, como as 4 estações do ano e as 4 direções do vento, por exemplo.

“O 3 representa o triângulo é considerado símbolo da espiritualidade, a Santíssima Trindade, por exemplo, é composta por 3 pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. Já o 4 é o número da solidez, totalidade, ancorado na Natureza: 4 são os lados do quadrado, 4 os elementos da matéria, 4 A soma forja o número da totalidade: 7” Ou seja: pode pular com fé as 7 ondas no mar, porque o número é mágico.

No fundo, o importante é o desejo de atrair bons votos para o ano que está chegando. “As adaptações são inúmeras, mas todas as culturas celebram essa passagem de um ano para outro, de um ciclo para outro e todas inventam suas formas próprias de desejar a todos um bom novo”, diz Denise.


Jacqueline Meireles
Psicóloga/Consultora
Fonte: Site IG
http://delas.ig.com.br/comportamento/por-que-a-gente-comemora-o-anonovo/n1597415469508.html

 

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