Para conviver bem é preciso aprender que todo mundo tem que ceder
Chega sábado à noite e você quer ver um filme cabeça no Cinema da Fundação, e depois, quem sabe, ir jantar sushi num agradável restaurante japonês. Mas seu par tem outros planos: prefere ir a um barzinho, num encontro com outro casal amigo que, francamente, você não suporta (mas nunca teve coragem para dizer). Essa situação assustadoramente cotidiana, e devidamente irritante, faz parte do dia a dia de qualquer tipo de relacionamento. Seria um impasse? Como lidar com as diferenças sem passar a impressão de mosca morta que sempre cede, ou durão cabeça dura que nunca é capaz de dizer “Ok, amor, você tem razão”?
Para a psicóloga e psicoterapeuta Jacqueline Meireles, dentro da dinâmica de cada relacionamento, as pessoas acabam meio que naturalmente interpretando papéis de certa forma intercambiáveis. “A pessoa mais generosa da relação sempre procura agradar, mesmo que muitas vezes o ato de ceder esteja lhe desagradando”, explica Jacqueline. “Mas tudo nas relações sociais tem um preço, e até essa pessoa que mais se doa num namoro tende a cobrar, nem que seja simbolicamente, essa sua suposta ‘solidariedade’”, pondera a psicóloga, que alerta para essas formas de se apresentar ao outro: “É muito mais gratificante e aceitável socialmente ser visto como uma pessoa generosa do que alguém rígido ou inflexível”.
O problema nessa situação, em que uma das partes “sempre cede” às demandas do outro, é talvez um crescente sentimento de submissão. Nesse sentido, Jacqueline alerta para a importância em se fazer constante análise das situações. “O ‘ceder’ se torna prejudicial quando umas das partes se sente incomodada com essa situação”, diz a psicoterapeuta. “Nesse caso, é preciso levar em conta a frequência relacionada ao ‘ceder’ e entender o porquê disso, a razão de se submeter tanto a esse tipo de ‘doação’”, comenta Jacqueline, que sinaliza a existência de dois tipos de comportamentos mais comuns para uma relação baseada nesses códigos: “Há o comportamento de submissão e de egoísmo. O submisso está sempre disposto a ceder, enquanto o egoísta pouco ou nunca se predispõe a tal atitude. Toda relação que causa sofrimento não pode ser vista como algo ‘saudável’ e deve ser avaliada”.
Quando a situação atinge esse momento-limite, em que a submissão ou o egoísmo são localizados e passam a incomodar, o que fazer? A busca pelo equilíbrio é sempre uma saída difícil de alcançar em qualquer tipo de relação. “O ideal seria não se anular, não se acomodar e, talvez principalmente, não se afastar de si mesmo”, alerta Jacqueline. “Para uma relação ser saudável, se tratando de namoro ou amizade, deve se respeitar o espaço limite de cada um. As relações não podem ser vistas como um ‘jogo de disputa’, de quem ‘ganha’ mais é quem ‘cede’ mais”, reflete Jacqueline.
Todas essas questões são de certa forma complexas e difíceis de entender quando nós somos os protagonistas. Nesse sentido, Jacqueline alerta para a importância de despertar uma noção apurada de (auto)observação, para perceber como nos relacionamos com os outros. “O processo psicoterápico leva o ser humano ao encontro de si mesmo, em que ele aprenderá a se olhar, a se aceitar e a construir seu próprio julgamento, com consciência, maturidade, responsabilidade e autonomia. Em outras palavras: saber o porquê das coisas, das escolhas e, principalmente, das nossas próprias atitudes, para uma mudança interior e sem culpas”.
Serviço
Jacqueline Meireles // (81) 8811 2263
www.psicologiaemanalise.com.br
Fonte: Folha PE
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