No mês em que se comemora o Dia das Mães, Cirurgiãs-Dentistas compartilham com o APCD Jornal suas experiências ao escolherem vivenciar as dores e os prazeres da maternidade.
Parte de
um desejo psíquico, a maternidade não está presente em todas as
mulheres, necessariamente. A aspiração de ser mãe vai além do social.
Evidentemente, que as demandas sociais estimulam a mulher desde cedo a pensar
sobre a maternidade, e isso pode ser percebido na própria educação infantil, no
ato de brincar de boneca, do ensinar a ninar, entre outros.
No
entanto, com grandes mudanças socioculturais, as lutas feministas favoreceram
as mulheres no que diz respeito às escolhas e tais conquistas estimularam e
quebraram antigos paradigmas. “Hoje, as mulheres ‘invadiram’ o mercado de
trabalho e a relação com as múltiplas funções as sobrecarregaram.
Por essa razão, o querer ou não ter filhos passa, agora, a ter uma importância muito maior”, avalia a psicóloga e psicoterapeuta Jacqueline Meireles.
Por essa razão, o querer ou não ter filhos passa, agora, a ter uma importância muito maior”, avalia a psicóloga e psicoterapeuta Jacqueline Meireles.
Costuma-se
dizer que a mulher já nasce para ser mãe tanto biologicamente
quanto anatomicamente, no entanto, não é o organismo que determina o ser
materno, mas sim seus anseios, sonhos e idealizações. “A cultura ajuda, a
sociedade reforça e o sujeito (mulher) é quem decide”, considera Jacqueline.
A psicóloga
salienta que dificuldades existem sim, principalmente, para muitas mães
que deixam seus filhos e vão trabalhar. “Nos primeiros meses após o parto,
é um processo doloroso”. Surgem inúmeras dúvidas e questionamentos.
A
sensação inicial é de ruptura na relação mãe-filho, mas não se deve
esquecer que mãe também é mulher e precisa de seu espaço, necessita viver. A
autoexclusão não é saudável; a criança não pode ser vista como um fardo ou
obstáculo à vida, mas sim como parte da existência. Trabalho, família, lazer
são momentos de importante valor pessoal e relacional.
Saber
organizar o tempo, bem como investir nesse tempo de forma qualitativa,
objetivando melhorar os espaços no cultivo de bons relacionamentos
familiares, favorece a interação e a construção do amor, que valida o
contato mãe-filho. O fator presença constante não significa ser uma excelente
mãe; a qualidade está na construção de um bom vínculo maternal.
O
mal-estar momentâneo provocado pela ausência é natural. A criança aprenderá
desde cedo que a mãe vai, mas volta. A saudade originada por momentos de
ausência é salutar, pois existem sentimentos. O segredo está no equilíbrio!”
Sobre as
mulheres que, por opção ou imposição, são mães sozinhas, a
psicoterapeuta ressalta que elas aumentam ainda mais o seu nível de
responsabilidade. Educação partilhada facilita muito, traz segurança,
contudo, não significa que as mães ‘sozinhas’ serão menos capazes.
Já em
relação às mães adotivas, Jacqueline é taxativa: “Não é o corpo que simboliza
o vínculo, mas o coração, o amor, os sentimentos. Mães adotivas são todas
que escolhem adotar de coração, independentemente de terem seus filhos
acolhidos no ventre. O vínculo do corpo é importante, entretanto, não é
fundamental.
Psiquicamente,
a mulher não nasce mãe, ela se torna mãe, aprende a ser maternal por
interferência da cultura e da sociedade. Os filhos são seres que ensinam essa
arte com a construção do sentimento, do amor sem limites”.
Para as
mulheres que desejam tornar--se mães, mas têm receios, Jacqueline
afirma que cada uma deve procurar em si o sentido que tal desejo
representa. “A maternidade não deve ser algo imposto, obrigatório, mas sim
planejado, sonhado, idealizado e internalizado.
A
maternidade se inicia no psiquismo, antes mesmo da concepção. São os sonhos,
os atributos que vão formar a primeira imagem do bebê idealizado.
Reciprocamente, não é coerente colocar em questão os valores maternais em
detrimento ao profissional, ambos devêm ser julgados de modo particular.
É
importante saber separar os momentos, dessa maneira, a mulher conseguirá
realizar suas escolhas com maior segurança, tendo seus medos minimizados.
Filho não é matemática, representa as relações, bem como o sentido de
pertencimento, intimidade. A forma como cada sujeito encara os desafios
diários sinaliza facilidades ou dificuldades em fazer escolhas.”
Para
Jacqueline, “na existência nada precisa ser abolido em absoluto, apenas é
preciso saber que existem papéis, e a opção de desempenhá-los será sempre
particular e essa é a grande conquista, bem como o grande desafio, pois um
dia os filhos crescem e as mulheres que apenas se percebiam mães descobrem
que também são profissionais, esposas, femininas, matriarcas e, ainda
assim, mulheres”.
Cirurgiãs-Dentistas
que escolheram ser mães
O APCD Jornal entrou em contato com algumas
mulheres Cirurgiãs-Dentistas que compartilharam suas experiências e são
exemplos da conciliação entre as duas tarefas: profissional e mãe.
Confira: “Tive minhas filhas
gêmeas com 24 anos. Eu não podia tomar pílulas anticoncepcionais, então
aconteceu sem planejamento. Trabalhava meio período como Cirurgiã-Dentista em
uma escola da prefeitura e meio período em meu consultório. A conciliação foi difícil
nos primeiros anos, mas quando se tornou possível eu abri mão da prefeitura e
passei a dispor de mais tempo para as meninas. O meu marido foi uma pessoa
muito presente na criação de nossas filhas. Vejo a situação de duas formas: no
caso da profissional registrada, a legislação atual protege melhor a mãe,
possibilitando o período considerável na companhia do recém-nascido,
tornando mais fácil desenvolver a carreira. No caso da profissional
autônoma, o planejamento deve ser mais cuidadoso e pode levar até ao sacrifício
da carreira se não houver suporte financeiro. Isso porque a ausência
do profissional autônomo por longo tempo de seu consultório pode ser muito
prejudicial à carreira. Com o passar do tempo, as Cirurgiãs-Dentistas que
não puderem contar com a ajuda dos pais, se possível, contratem uma boa
profissional para manter o filho em casa, ou pesquise um bom berçário.
Como experiência própria, posso dizer, sem dúvida, que há enormes
sacrifícios, mas é possível manter a carreira
e a boa educação com o amor dos filhos.” - Maria
Tereza Barbosa Rolfsen, 57 anos. (São Paulo – SP)
"Conciliar
vida profissional com maternidade não é fácil, mas também não é algo
complicado. Devemos estabelecer prioridades, tentar levar a vida sem
prejuízo nas duas funções. O ideal seria sabermos qual o melhor momento para
sermos mães, mas nem sempre isso é possível; a natureza faz suas artes. Além
disso, se ficarmos planejando muito nunca acharemos o momento certo. Tive minha
filha aos 25 anos; já queria engravidar fazia um tempo. Engravidei quando
estava formada há dois anos e trabalhando em três turnos, levei um susto
e me perguntei: E agora? Eu morava no interior de São Paulo e minha
família na capital. Foi um sufoco no começo, a licença-maternidade naquele
tempo era só por três meses, trabalhei até na véspera da minha filha
nascer. Por sorte, contei com a ajuda preciosa da minha mãe nas primeiras
semanas. Foi difícil retomar a profissão no final desses três meses;
aleitamento, cólicas, banhos com hora marcada, aluguel vencendo... Uma
loucura que só nós, mulheres, entendemos. Ainda bem que nós, mulheres,
temos o dom da multiplicação das horas... Nesse processo, algumas coisas
ficam prejudicadas, mas não se pode ter tudo ao mesmo tempo. Respeito quem
escolhe a profissão e deixa a maternidade para segundo plano, mas acho
isso ruim; às vezes, esquecemos que a natureza nos faz férteis, com vigor
e garra para criar os nossos filhos por um tempo que acho pouco,
a menopausa nos chega logo. Filhos e profissão convivem bem. Deixar de
tê-los em função do sucesso profissional faz nosso futuro vazio. A
profissão nos traz alegrias, faz massagem no nosso ego, nos dá poder, mas
também nos desgasta. O tempo passa, envelhecemos, cansamos. Penso que a vida em
família tem um peso maior. Para as colegas Cirurgiãs-Dentistas que trabalham e
querem ser mães, digo para deixarem a vida levar; sejam felizes na vida pessoal
e na profissional, lembrem-se que a profissão não é tudo, aproveitem a
juventude, continuem estudando, sejam especialistas, mas tirem um tempo para
serem mães. Somos capazes! Assim como eu, muitas mulheres conseguiram traçar um
longo caminho na carreira, alcançaram
sucesso, cargos importantes na área, e o mais importante: conseguiram também criar
seus filhos e serem ótimas mães." - Maria Elizabeth Ramos
Martins, 58 anos. (Guaratinguetá – SP)
“Minha
primeira e única filha nasceu dois meses antes de eu completar 41 anos. Foi
superplanejada e esperada! Durante os 20 anos de formada, tive praticamente
dedicação exclusiva à minha carreira; um dos motivos de ter esperado tanto
para ser mãe. Quando minha filha nasceu já estava profissionalmente
estabilizada e tive o privilégio de poder organizar meus horários para
estar com ela muitas horas por dia. Voltei a trabalhar quando minha filha tinha
apenas 20 dias de nascida, porém, com horários bastante flexíveis. Ainda assim,
meu ritmo de vida mudou muito. Abri mão dos cursos que ministrava, e
passei a colocar na balança os convites recebidos para ministrar aulas e
cursos. Em minha opinião, cada família tem suas metas e seu planejamento
individual. Eu esperei muitos anos para ter minha filha. Hoje, posso dizer que
não me arrependo da carreira que trilhei, dos muitos obstáculos que encontrei,
e que o sucesso que tive é algo que me deixa um pouco mais confortável para
concluir que seu eu soubesse o que era realmente a maternidade antes de
ter sido mãe, teria tido mais três ou quatro filhos, porque ser mãe é, hoje, a
melhor coisa que me aconteceu na vida. Não esperem muito tempo para conhecer o
amor mais verdadeiro que alguém pode sentir. Mas, preparem-separa recebê-lo
quando realmente estiverem prontas para dizer não a muitas oportunidades
de trabalho em nome dele, para que essa escolha seja envolta em realização
plena e prazerosa, e não gere frustrações. Também aprenda a usar cada minuto do
seu dia, e cada minuto ao lado dos seus filhos, porque realmente a qualidade do
tempo vivido ao lado deles é imensamente mais importante do que a quantidade.
Não pode existir culpa em conciliar o trabalho com os filhos. Sinto que
hoje minha filha com quase três anos de idade entende quando saio para
trabalhar e é mais independente do que as crianças que ficam o dia
todo com as mães. Ela valoriza cada minuto que estamos juntas e temos uma
relação muito próxima. Respeito a idade dela e seu entendimento sobre o
assunto,mas em sua linguagem abordo sempre minhas ausências para que ela desde
cedo entenda que estarei sempre ao seu lado
quando precisar, mas,principalmente, quando ela nem sentir que precisa. Acho
que isso é ser mãe; é estar presente sempre, e construir uma base sólida de
exemplos de amor e compreensão.” - Andrea Ashcar Cury,43 anos.
(São Paulo – SP)
Jacqueline Meireles
Psicóloga/Consultora
Fonte: Jornal APCD Pág. 22 e 23
http://www.apcd.org.br/jornal/Jornal_2012_05/index.html
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